Que a leitura é um alimento para a criatividade e para o conhecimento, isso todo mundo sabe. O que nem todo mundo conhece é que os idosos são leitores assíduos, além de escritores de qualidade, com grande experiência e muito a dizer. Estudos afirmam que, para minimizar os efeitos negativos da terceira idade para a memória e depressão, o estímulo literário é o melhor caminho. Para aqueles que continuam cheios de histórias e possuem o desejo de compartilhá-las, o mercado é vasto e está aberto para quem já atingiu a melhor idade e ainda quer publicar seus trabalhos.
O ato de ler faz parte da vida da Maria da Glória Fernandes, de 63 anos, desde a adolescência, quando lia romances. Os livros foram um escape para a idosa, que hoje mantém o hábito por causas diferentes. Segundo ela, com a maturidade, as emoções que ela sente ao ler um livro são diferentes, além dos objetivos, os quais também mudaram. Maria da Glória almeja aumentar o vocabulário e os conhecimentos, e, por este motivo, a idosa prefere obras com uma visão individualista, que a aproximem do seu eu interior, como Augusto Cury e Helena Blavatsky.
“Os livros me deram a visão de que, quanto mais você sabe, menos se sabe. Gosto muito de todos os gêneros e o que importa para mim é que a leitura me leve a alguma reflexão, acrescente algo. Me chamam atenção todas as obras que me fazem crescer de alguma forma”, explica.
A editora Labouré Lima, da Editora Muiraquitã, revela que a terceira idade possui muito para compartilhar, e o fazem com propriedade. A Muiraquitã possui cerca de 80% dos livros publicados escritos por contistas, cronistas, poetas, pensadores, historiadores e documentaristas nessa faixa etária.
A editora observa, entretanto, que segmentar os livros para os idosos seria uma forma de limitar o interesse dessas pessoas, que é vasto. Para lazer, eles preferem contos e crônicas e, quanto aos assuntos específicos, a maioria está relacionada à saúde ou viagens.
“O mercado editorial está bem abastecido de assuntos. De uma forma geral, a literatura tem muito a oferecer como entretenimento. O mais importante é que o interesse pelo conhecimento não se esgota. Não vemos necessidade de rotular um gênero específico para os leitores da ‘melhor idade’”, argumenta Labouré.
A autora do livro “A psicomotricidade e o idoso”, Fátima Alves, explica que a literatura vai ao encontro do prazer e oferece tempo e espaço para discussões, participação e cooperação. Sua obra, segundo ela, serve como base para conhecimentos sobre a reeducação e terapia psicomotora voltada para o idoso e reúne reflexões sobre preservação da saúde da terceira idade. A autora afirma que sempre possuiu o desejo de escrever para este público, e para ela, o maior desafio do nicho é mostrar que não é porque se envelhece, que não se pode continuar a viver.
“Acho que deveríamos abrir espaço para questionarmos a possibilidade de diminuirmos a distância entre livros e leitores, em especial os da terceira idade. Acredito que o mercado ainda pode crescer e levar o idoso a se dedicar à leitura e fazer dela sinônimo de lazer, exercitar e manter a saúde mental”, encoraja a autora.
Para a leitora Maria da Glória, o idoso que teve interesse na leitura quando adolescente e adulto, provavelmente vai manter o hábito quando a atingir a melhor idade. Maria acredita que, com o aumento da vivência, as pessoas ficam mais seletivas e buscam conteúdos substanciais, que acrescentem conhecimento. Quanto aos autores idosos, ela explica que lê muitos livros de escritores dessa faixa de idade, mas que o que importa é a qualidade da obra.
“Se o autor é idoso e tem uma caminhada com conhecimento e aprendizado, eu amo. Mas leio livros escritos por qualquer pessoa, desde que eles possuam uma boa mensagem, apesar de saber que terceira idade possui mais experiência, claro”, finaliza.
Fonte – O Fluminense por Mayara Aguiar
Veja Produtos e Serviços