A escritora francesa Simone de Beauvoir escreveu o livro A Velhice em 1970 para, segundo ela, “quebrar a conspiração de silêncio” sobre a realidade das pessoas que envelhecem. A Organização das Nações Unidas instituiu o 1º de outubro como Dia Internacional do Idoso com objetivo similar – divulgar as questões que envolvem a população com mais de 60 anos, um contingente que será em breve majoritário no planeta. Em 2014, a ONU vai comemorar a data com o tema “Sem Deixar Ninguém para Trás: A Promoção de uma Sociedade para Todos (ou Leaving No One Behind: Promoting a Society for All)”.
No Brasil, o Dia Nacional do Idoso é celebrado na mesma data do evento internacional, de acordo com a Lei nº 11.443, de 28 de dezembro de 2006, que também determina aos órgãos públicos responsáveis pela coordenação e implementação da Política Nacional do Idoso que se responsabilizem pela realização e divulgação de eventos que valorizem a pessoa idosa na sociedade.
O princípio de “não deixar ninguém para trás”, segundo as Nações Unidas, pretende chamar a atenção para o fato de que a questão demográfica é importante para o desenvolvimento sustentável, e que as dinâmicas populacionais vão moldar os desafios fundamentais do mundo no século 21”. Não responder aos problemas dos mais velhos, alerta a entidade, significa ignorar 20% da população global em 2030, ou 1,4 bilhão de pessoas. Haverá então mais adultos com idade superior a 60 anos do que crianças com menos de dez. E as mudanças mais rápidas na estrutura etária vão ocorrer nos países em desenvolvimento.
No Brasil, segundo pesquisa do IBGE, a população idosa totaliza 23,5 milhões de pessoas, mais que o dobro do registrado em 1991, quando a faixa etária contabilizava 10,7 milhões de pessoas. Na comparação entre 2009, quando somavam 21,7 milhões, e 2011, o grupo aumentou 7,6%, ou seja, mais 1,8 milhão de pessoas, informa levantamento disponível no site da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Ao mesmo tempo, o número de crianças de até quatro anos no país caiu de 16,3 milhões, em 2000, para 13,3 milhões, em 2011.
O 1º de outubro foi escolhido como Dia Internacional do Idoso para marcar a realização da Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, em 1982, na Áustria. Foi a primeira Assembleia sobre o tema, convocada para começar a preparar ações que dessem conta da grande transição demográfica em curso no mundo. Na ocasião, foi elaborado o Plano de Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento, cobrindo iniciativas e questões nas áreas de saúde e nutrição, proteção de consumidores idosos, habitação e meio ambiente, família, bem-estar social, segurança de renda e emprego, educação e a coleta e análise de dados de pesquisa.
Em 1991, a Assembleia Geral adotou o Princípio das Nações Unidas em Favor das Pessoas Idosas, com relação a independência, participação, cuidado, autorrealização e dignidade. E, no ano seguinte, a Conferência Internacional sobre o Envelhecimento produziu outro documento relevante, a Proclamação do Envelhecimento. A Segunda Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre o Envelhecimento aconteceu em 2002, em Madrid, resultando na Declaração Política e no Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento de Madrid. O Plano de Ação pedia mudanças de atitudes, políticas e práticas em todos os níveis, para satisfazer as enormes potencialidades do envelhecimento no século XXI. Suas recomendações específicas para ação dão prioridade às pessoas mais velhas e ao desenvolvimento, melhorando a saúde e o bem-estar na velhice, e assegurando habilitação e ambientes de apoio.
A mudança na pirâmide demográfica tem impacto em todas as áreas da sociedade. E está fazendo dos velhos uma força dominante no mundo, com um potencial inédito de ação somada à experiência, graças aos avanços na cultura, na tecnologia e na medicina. “A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer”, diz uma canção do compositor Arnaldo Antunes. E se entendermos a modernidade como a percepção profunda do sentido transitório de todas as coisas, a velhice parece mesmo ser o que de mais moderno pode acontecer às pessoas.
“A velhice não é um fato estático; é o resultado e o prolongamento de um processo. Em que consiste este processo? Em outras palavras, o que é envelhecer? Esta ideia está ligada à ideia de mudança. Mas a vida do embrião, do recém-nascido, da criança, é uma mudança contínua. Caberia concluir daí, como fizeram alguns, que nossa existência é uma morte lenta? É evidente que não. Semelhante paradoxo desconhece a verdade essencial da vida: ela é um sistema instável no qual se perde e se reconquista o equilíbrio a cada instante; a inércia é que é o sinônimo de morte. A lei da vida é mudar.”
Simone de Beauvoir. A Velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.