É possível experimentar o processo de envelhecimento com beleza, liberdade e felicidade. É o que defende a antropóloga Mirian Goldenberg no ensaio ‘A Bela Velhice’, que escreveu depois de 25 anos de pesquisas com homens e mulheres.
Para a antropóloga, que participou do II Fórum Internacional de Longevidade da Bradesco Seguros, no Rio de Janeiro, em outubro, o primeiro passo para construir a ‘Bela Velhice’ é ter um projeto de vida. Ela também recomenda sabedoria para rejeitar estereótipos e criar novas possibilidades e significados para o envelhecimento. Pessoas que conseguiram driblar os clichês da idade, são aquelas que Miriam considera ‘ageless’ ou sem idade. “São os que não aceitam rótulos, os inclassificáveis”, diz, citando como exemplos os ‘jovens’ Gilberto Gil, Rita Lee e Chico Buarque.
Nessa fase da vida, observa a pesquisadora, o tempo é o principal capital. “Não podemos ‘matar’ o tempo. Precisamos tomar o tempo para cuidar de nós mesmos. Viver intensamente o presente.” Para fazer isso, ela sugere uma faxina geral na própria vida. “Uma faxina material e existencial, eliminando o que acumulamos e que não nos faz bem.”
Durante a palestra, a antropóloga também frisou a importância de cultivar as amizades, o que, de acordo com seus estudos, é feito com mais habilidade pelas mulheres. “Nas minhas pesquisas, notei que os homens nessa idade falam com muito carinho da família. Já as mulheres não abrem mão das amigas. E elas dizem que são as amigas que vão cuidar delas na velhice.”
Para Mirian, a chegada das mulheres à ‘bela velhice’ coincide com a libertação das obrigações domésticas. A sensação de liberdade tem início a partir dos 50 e se intensifica aos 60. “Aprender a dizer não é um aprendizado na velhice. As mulheres mais novas têm muita dificuldade de dizer não, mas aprendem depois de uma certa idade. Uma vez, a atriz Marília Pêra recusou um projeto importante e uma jovem atriz disse pra ela: ‘lógico que você pode dizer não. Você é a Marília Pêra’. E a atriz replicou: ‘foi justamente o contrário. Eu só sou a Marília Pêra porque aprendi a dizer não.”
(Foto: Cristina Lacerda)