Reproduzimos nessa matéria parte da entrevista do publicitário e doutor em Comunicação Dado Schneider, dada ao O Globo, antes de sua participação como palestrante na última Campus Party, evento anual de tecnologia, ciência e cultura nerd, que aconteceu em fevereiro passado, no Anhembi – SP. Na entrevista, Dado fez previsões para os próximos cinco anos, apostou que ninguém está preparado para o período disruptivo que está por vir. Para ele, quem vive apegado às ideias e ao modo de vida do século XX não suportará viver na próxima década.
O professor vislumbra ainda alterações radicais nas profissões tradicionais e um mercado de trabalho exclusivo para quem entendeu o novo tempo. Sobre startups, ele diz que pode ser uma saída para os desiludidos com a profissão e com a carreira. E ainda aposta que a nova linguagem universal será os emojis, os símbolos usados, principalmente, nas mensagens de celular.
“Nós já estamos vivendo esse período disruptivo desde a popularização do iPhone e seus concorrentes, no final da década passada. Assim, a mobilidade acabou se tornando mais importante do que tudo o que havia acontecido até então em termos de computador, internet etc. O smartphone propiciou o surgimento dos símbolos atuais de disrupção: Uber, Spotify, Airbnb – e todos os que estão sendo criados agora, neste momento, no mundo todo”, afirma Dado.
Quem não está preparado para isso?
Dado – Ninguém está preparado para as mudanças. As pessoas mais velhas — estamos falando das pessoas de 35 anos para cima — têm uma defasagem digital. A defasagem digital não é mexer em equipamentos, mas é lidar com o compartilhamento de informações. É ter como natural o que as gerações mais novas já tem. Essas gerações mais novas têm uma defasagem de acúmulo de informações diárias e cultura. Não há mais a reunião da família diante de uma tela diariamente. E, quando foi cada um para um canto da casa, perdeu-se a troca de comentários sobre o que está acontecendo no dia a dia.
É apenas quem não consome notícia ou que não está antenado para as mudanças digitais que não está preparado?
Dado – Não faz muito tempo, velho era velho, resistente à mudança, e que jovem era jovem, aberto ao novo. Diferenciávamos-nos por idade. Hoje, há jovem-jovem, mas também há jovem-velho. Há velho-velho e velho-jovem. É uma questão de mentalidade. E quem vive apegado às ideias e ao modo de vida do século XX não está preparado para o século XXI, que é muito mais complexo, exigente e veloz do que o século anterior. Quem não fizer um esforço, urgentemente, para se atualizar quanto a comportamento, ideias, técnicas, conhecimento (principalmente, do mundo digital), diversidade, entre outros, não suportará viver na próxima década.
Para o professor Schneider muita gente e de todas as idades, classes sociais, além de base cultural diversa, não consegue compreender o século XXI, não consegue acompanhar o seu ritmo, não se permite abrir a cabeça para as radicais mudanças comportamentais surgidas e não vê chance de que isso possa mudar no futuro. Isso pode causar o isolamento social ou até mesmo geográfico, gente que vai viver bem longe do que possa ser parecido com a vida do século XXI. É uma espécie de uma nova casta, os Amish ou Luddistas modernos, que insistem em viver no século XX.
O que mais deve ser disruptivo nos próximos anos?
Dado – Acho que os emojis, essas imagens que traduzem sentimentos e que são cada vez mais utilizadas nas redes sociais, são um novo Esperanto. E, mesmo sabendo que os amantes deste idioma ficam contrariados com a minha comparação, eu vou um pouco além. Os emojis serão, sim, ampliados e se consolidarão como o Esperanto do século XXI.
Fonte – oglobo.com, por Gabriela Valente