Envelhecer é inevitável, e a perda da juventude tem um preço. A velhice está associada à perda de saúde, de autonomia, da beleza, e até mesmo da consciência. Há várias tentativas disponíveis para retardar o processo, cirurgias plásticas, tratamentos milagrosos, cremes, remédios e mais remédios, mas não adianta, a idade chega para todos. Mas, como diz o clichê, se não se pode vencê-la, junte-se a ela; o que fazer para viver a terceira idade com saúde?
Primeiro, é necessário se livrar das associações negativas com a velhice. Existe uma área de estudos do processo de envelhecimento chamada gerontologia, que não deve ser confundida com geriatria, pois esta última é uma das várias formações que compõem a gerontologia, como nutrição, serviço social, psicologia, entre outros. De fato, “a gerontologia tem evidenciado que o envelhecimento é uma experiência mais positiva do que a sociedade ocidental pressupunha que fosse”, como escreve Helder Rebelo, mestre em psicologia e pesquisador em gerontologia de Portugal.
No grande leque de tratamentos para aumentar a qualidade de vida nessa fase da vida há a psicoterapia. Mais conhecida como terapia, corresponde ao tratamento com psicólogo ou psicanalista, que busca compreender, amenizar e transformar os sofrimentos da mente humana.
Existem várias correntes dentro da psicologia, cada uma com uma abordagem diferente sobre a psiquê humana. Uma das mais conhecidas é a psicanálise, fundada por Freud, mas também existem as terapias cognitivo-comportamental, Reichiana, humanista, entre várias outras.
A psicóloga reichiana Flávia Dias explica que “a psicoterapia atua a nível psicológico, corporal e bioenergético. Enxerga o ser humano como uma unidade psicossomática, na qual corpo e mente formam um sistema integrado”.
Essa abordagem, diz ela, tem efeito tanto sobre distúrbios psicológicos quanto orgânicos, como dores de cabeça, asma, gastrite, que podem ser psicossomáticos, ou seja, sintomas físicos causados por distúrbios psicológicos.
Para a pessoa idosa, a terapia é um trunfo no combate aos problemas mais comuns dessa fase, como diminuição de autoestima, depressão, ansiedade, sentir-se inadequado, perda de autonomia e luto. Esses sofrimentos não são exclusivos da população sênior, mas se tornam mais comuns nessa faixa etária. A terapia também pode ajudar com processos degenerativos e demência, associada a consultas com profissionais de outras áreas, como neurologia, geriatria e psiquiatria.
“Entre os anseios desta fase está o momento de reflexão. O idoso começa a rever tudo o que fez, que podia ter feito ou deixou de fazer. É um momento de refletir e dar significados às coisas que fez durante a vida”, comenta Francisca Hurtado, psicóloga clínica do Instituto Aliança.
É bastante comum, no entanto, idosos se recusarem a participar de uma terapia. A união familiar é fundamental, pois quando os parentes perdem a paciência e se afastam, o idoso pode interpretar como uma ingratidão e magoar-se. O papel da família é ajudar a pessoa a lidar com seu novo tipo de vida, dando suporte e acompanhando-a em todos os sentidos.
“É muito importante que a família possa abordar o assunto com empatia. Através de um olhar compassivo, procurando mostrar os sintomas que o incomodam e os benefícios de uma ajuda terapêutica. Um ambiente familiar acolhedor pode favorecer o diálogo, promovendo a sensibilização do idoso, aumentando a possibilidade de escuta e troca, facilitando o entendimento do que vem a ser o processo terapêutico e seus benefícios”, explica Flávia Dias.
A especialista cita como exemplo o caso de um paciente idoso que perdeu recentemente a esposa.
“Ele veio com o incentivo de suas filhas, pois estava vivenciando a dor da doença em fase terminal de sua esposa. A terapia o ajudou a dar voz às emoções. Na medida que os sentimentos foram sendo validados, e ele pôde vivenciar sua tristeza em um lugar seguro, diminuiu a chance de uma possível depressão”, finaliza.
Fonte – O Fluminense