Poucas cidades tem uma ligação tão íntima com os principais acontecimentos da história mundial quanto Berlim. Poucas combinam tão bem o passado com tendências contemporâneas nas artes, moda, urbanismo e comportamento social.
Mas foi preciso que Berlim virasse do avesso!
O passado conturbado – duas grandes guerras, nazismo e um muro que a deixou dividida por 28 anos – deu-lhe ares de mulher experiente. Daquelas insinuantes e imprevisíveis, que viram a noite nos nightclubs mais radicais com o mesmo prazer com que frequentam a Filarmônica.
Uma cidade controversa, multicultural, alternativa, plural, onde convergem cidadãos dos quatro cantos do mundo. Qual a cara desta metrópole? Que sotaque tem? Como é sua gastronomia? Todas e todos!
Berlim reinventou o significado de tolerância abrigando mais de 170 nacionalidades, pessoas tão diferentes convivendo em total harmonia. É certo que levou um tempo para que o ocidente e o oriente da cidade fusionassem, um tempo para que todos se sentissem confortáveis neste novo modelito. E ficou repleta de duplos, triplos e diferentes. Com a reunificação restaram duas torres de TV, duas Sinfônicas, duas Filarmônicas, três Óperas, três aeroportos… e um único sentimento: somar é ganhar!
Por exigência de uma lei do século XIX, os edifícios alcançam, no máximo, 28 metros de altura, um padrão de construção de prédios de cinco andares. A intenção era que não ultrapassassem igrejas e sinagogas. Hoje, com o pé direito mais baixo, chega-se a 6 ou 7 andares com a mesma altura de prédios. Arranha-céus são exceção e, se a cidade não cresceu pra cima, o fez para os lados: Berlim é dez vezes maior, em extensão, do que Paris!
Cada bairro são muitos e, tão extensos, com personalidades tão distintas que é difícil definir o que o caracteriza. Plana e segura, com trânsito habituado a dividir seu espaço com as bicicletas, a cidade tem 620 km de ciclovias: é o paraíso para quem gosta de uma magrela!
Muitas são as formas de conhecer a cidade, muitos são tipos de tours. Não deixe de fazê-los se é a sua primeira vez por aqui. Além de informativos, mostram o imperdível e ajudam na orientação geográfica. Seguem:
a) de ônibus Hop On Hop Off, que permite descer, visitar o ponto turístico e pegar o próximo ônibus. São vários os locais de embarque, informe-se no hotel qual o mais perto de você;
b) a pé pelo centro – tour oferecido em diversos idiomas, cobre roteiros como A História Prussiana, O III Reich ou A Guerra Fria e conhece-se a cidade pela perspectiva do caminhante, costurada pelo tema escolhido. Depois de 2,5 horas e muitas histórias, você paga o que acha que o serviço valeu! (www.newBerlimtours.com);
c) de bicicleta – com roteiros diversos para você se sentir um local! www.FreeBerlimTours.de
d) de barco – de abril a outubro, mostra a cidade pelo leito do rio Spree.
Use e abuse do transporte público, que é rápido e eficiente. São quatro tipos de modais: ônibus, metro, S-Bahn (trem de superfície) e o Tram (bonde). De 4 a 7 dias na cidade, vale a pena comprar o ticket de uma semana, com direito ao uso de todos os meios de transportes citados. Os táxis também não são caros.
A cidade tem muitos eixos de interesse. As cores ajudam a identificá-los:
Berlim turística – monumentos, história, museus, óperas, comércio.
Berlim e a II Guerra Mundial Muro – Uma cidade dividida
O foco nessa edição é o Mitte, literalmente “meio“, em alemão. Para muitos, este bairro representa o coração da cidade. Veja, a seguir, o que encontramos neste “meio“.
Portão de Brandenburg
Principal cartão postal da cidade e um dos monumentos mais simbólicos da história do século XX. Foi Frederico Guilherme II, da Prússia, que ordenou a construção do portal datado de 1795. Um de seus principais ornamentos, a quadriga (carro puxado por quatro cavalos), tornou-se objeto de disputa nas duas invasões que Berlim sofreu. A primeira, na época de Napoleão, que levou a quadriga para Paris. E, durante a II Guerra, pelos nazistas, que a viraram para o lado oriental da cidade. Quando passar sob o Portão, não se surpreenda se sentir-se sobrecarregado: aqui, o peso da história é palpável!
Reichtag – casa do Parlamento alemão desde 1899. Quem o visita tem dificuldade de imaginar esta construção inteiramente destruída durante a II Guerra Mundial. De pé, somente a “casca”. Coube ao arquiteto inglês Norman Foster, vencedor de um concurso mundial, comandar a reforma do antigo prédio para abrigar o novo parlamento da Alemanha unificada. Sua cúpula de vidro é, hoje, um marco obrigatório para quem visita a cidade. Além de uma obra arquitetônica sem igual, oferece uma visão 360 graus da cidade. Para visitá-la, programe-se com antecedência, preencha o formulário no site www.bundestag.de/besuche/formular escolha o dia e hora desejada. O horário do pôr do sol é uma boa sugestão. Imprima a confirmação que eles enviam.
The Gate Berlim – filme em 180 graus que conta 300 anos da história de Berlim tendo o Portão de Brandenburg como linha narrativa…
Holocaust Memorial – o memorial sobre o Holocausto mais importante da Alemanha. Uma iniciativa cívica da população, impulsionada por jornalistas e historiadores, inaugurado em maio de 2005. O monumento ocupa um campo de estelas de 19 mil m² com 2.711 blocos de concreto. Um centro de informações sobre o extermínio dos judeus da Europa encontra-se no subsolo. Cartas, postais, depoimentos e fotos tem a missão de manter viva a história oral dos que pereceram na guerra. Os blocos parecem lápides e não existem duas iguais em tamanho, altura, largura e peso. Caminhar entre elas é um desafio, com o piso irregular, um labirinto muito fácil de se perder… Projeto de Richard Serra e Peter Eiseman.
BebelPlatz – onde fica a Biblioteca da Universidade Humbold. Durante o período nazista, todas as publicações e livros acadêmicos eram examinados por censores e aqueles considerados inadequados eram recolhidos e queimados. A Bebelplatz protagonizou uma grande queima de livros. Em homenagem a este fato, foi colocada uma “janela indiscreta”: uma placa de vidro no piso da praça revela estantes de livros vazias no subsolo e uma frase profética do poeta Heinrich Heine: “Onde se queimam livros, acaba-se por queimar pessoas”.
Caminhar pela Unter den Linde, que vai do Portão de Brandenburg à Ilha dos Museus, é um prazer de quase 2 km plenos de charme, restaurantes, lojas, bares, museus, embaixadas e galerias.
Neue Wache – entre a Humboldt University e a fachada barroca do Deutche Historic Museum não deixe passar despercebido um pequeno prédio de colunas circulares, do século XIX, onde funcionava a casa da guarda da família real prussiana. Sem portas ou janelas, exposto às intempéries do sol, da chuva e da neve, a escultura Mother with her Dead Son, de Käthe Kollwitz, emociona e encanta. Conhecida como a Pietá da Alemanha, representa um momento de reflexão na agitada avenida.
Dom
A bela e imponente Berlimer Dom é a maior e mais importante igreja protestante da cidade e um dos prédios mais fotografados. Não é de se admirar, pois destaca-se na paisagem com suas cúpulas de monumentais 114 metros de comprimento e 116 metros de atura. A Dom localiza-se às margens do rio Spree, na Ilha dos Museus.
Exatamente do outro lado do rio Spree, está o DDR Museum, delicioso, pequeno, divertido, interativo. www.ddr-museum.de. É uma indispensável exposição que nos permite entender como era o intrincado dia a dia na Deutsche Democratic Republic. Muito, muito bom!
Também ao lado da Dom está a Ilha dos Museus – uma das maiores concentrações de tesouros da Antiguidade – encravados numa ilhota nas águas do rio Spree. Declarados Patrimônio da Humanidade, cada museu tem personalidade muito diversa. O Bode conta com a maior exposição de esculturas da Europa, além de um museu dentro dele mesmo, de arte bizantina, com sarcófagos e os famosos mosaicos bizantinos. O Neues exibe uma coleção de papiros e antiguidades egípcias e troianas, além do imperdível busto de Nefertite. No Altes Museum vemos antiguidades, arte e esculturas romanas e etruscas. Na Alte National Gallery, obras de arte europeia do século 19. Por último, o imponente e imperdível Pergamon, não sem motivo, o museu mais visitado de Berlim, com o Altar de Pérgamo, que lhe dá nome, além da Porta de Ishtar, da Via Processional da Babilônia e o Portão do Mercado de Mileto. Atualmente encontra-se em reforma.
Também por aqui fica o acesso ao passeio de barco pelo Rio Spree, que permite uma visão da cidade em outra perspectiva.
Postdamer Platz
A mais famosa praça da cidade foi um dos lugares de maior transformação ao longo da história recente. Do passado glorioso sobraram partes preservadas do Grand Hotel Esplanade, que hospedou de Greta Garbo a Charlie Chaplin. Após a construção do muro, em 1961, a Potsdamerplatz fazia parte da “faixa da morte”, espaço entre o muro de concreto que todos conhecemos e outro, interno, de madeira e arame farpado, por onde espalhavam-se soldados armados, cães de guarda e tanques de guerra. Quando o muro ruiu, a praça era um terreno baldio. Hoje, 28 anos e dois bilhões de euros depois, isso só pode ser percebido pelo caminho de paralelepípedos que indica o lugar por onde passava o muro. A praça abriga museus, hotéis sofisticados, restaurantes, cafés, modernas salas de cinema, empresas e construções futuristas como o Sony Center, símbolo desta renovação, além de ser o centro financeiro da cidade.
Berlim, com mais de 800 anos, exibe corpinho de 30 e alma de adolescente, em eterna transformação! Se você é daqueles que não resiste a um shopping center aqui está a sua chance: Mall de Berlim, o único da cidade, reúne dezenas de lojas locais e internacionais.
A alguns metros dali é possível fazer voltar o tempo até a II Grande Guerra ao conhecer a Topografia do Terror, aberta em 2010, exatamente no lugar onde ficava a sede da Gestapo e da SS, principais instrumentos de repressão do nazismo. As construções foram inteiramente destruídas e, em seu lugar, uma exposição, a céu aberto e em linha do tempo, conta a história de Hitler. No quarteirão limpo e vazio, o centro de documentação tem farto material de pesquisa e consulta, além de corajosa e esclarecedora exposição. Ainda há cicatrizes na face desta metrópole. Marcas talhadas a ferro, fogo e intolerância. O povo alemão que, por 50 anos sufocou seu orgulho nacionalista, hoje, as encara de frente. Lugares como este, impedem que embaraçosos capítulos da história se apaguem. Aliás, se as cidades tivessem “consciência“, Berlim seria assídua no divã do psicanalista para tentar entender os erros do seu atormentado passado nazista. www.topographie.de
Bunker da Boros Collection – durante a II Guerra Mundial muitos deles foram construídos como abrigo antiaéreo. Este, perto da estação de Friedrichstrasse, previa acomodar 1.200 civis, mas chegou a abrigar 4.000. Finda a guerra, foi usado pelos soviéticos como prisão e, posteriormente, depósito de frutas, o que deu-lhe a alcunha de Banana Bunker. Nos anos 90, tornou-se boate techno até ser fechada pela polícia. Em 2003 foi comprada pelo bilionário Christian Boros, que o transforma numa galeria que, hoje, acolhe a maior coleção privada de arte contemporânea da Alemanha: a Sammlung Boros. Neste casamento da história com a arte, as visitas precisam ser agendadas com cerca de um mês de antecedência no site www.sammlung-boros.de. Os visitantes, em grupos de 12, são guiados por estudantes de História da Arte que trabalham no local.
Mitte
O Mitte é cultura, é consumo, é história, arte, tradição e vanguarda. Ele é tão grande e diverso que abriga tudo o que foi descrito até agora e … muito mais. Durante os anos do muro, o antigo bairro ficou escondido atrás dele. Depois de sua queda, o Mitte transformou-se na região mais frenética da cidade, numa miscelânea de estilos e tendências. De um lado a sofisticação da Unter den Linden retrata a época de ouro da cidade e a Friedrichstrasse clama pelo consumo chic nas Galerias Lafayete. No outro extremo, a feiosa AlexanderPlatz, agitada e caótica, é ponto de partida para o comércio popular, restaurantes e nigthclubs. A Orianenburstrasse atrai, durante o dia, judeus ortodoxos a caminho da Nova Sinagoga e, mal cai a noite, jovens alternativos em busca de diversão. O Mitte é um bom resumo de Berlim.
Seu espírito livre e forma de viver lembram o Soho, com lugares imperdíveis como o Hackescher Höfe Markt – uma sequência de oito pátios internos, “miolos“ de prédios que se interligam, com mil lojinhas, charmosas e únicas, galerias de fotografia e de arte, cafés e bares. Os höfe (pátios) de fora pouco revelam, e, em seu interior, a alma do bairro se revela.
Em constante transformação o Mitte se apressa em direção ao futuro. Não para esquecer o passado, mas para deixá-lo pra trás… Num feliz casamento entre o que devo, o que posso e o que quero, sem vergonha nenhuma da filosofia barata, concluo: felicidade é sentar-se num café e ver a vida passar. Porque se perder pelo Mitte é se achar…
Dicas para o Viajante
Para consultas antes do embarque: www.visitberlin.com www.informationberlin.com www.visitealemanha.com
Hoteis
Você não terá nenhuma dificuldade em escolher hotel por aqui. São centenas, de todos os preços, para todos os gostos. No verão, verifique se o hotel escolhido tem ar condicionado, conforto incomum na cidade.
Motel One – não se preocupe, motel daqui não é o motel daí! Com oito endereços na cidade, sempre muito bem localizados, perto de metrô e atrações turísticas. São hotéis design, modernos, minimalistas. Preços muito acessíveis até 100,00€. Confira as opções Berlin Mitte e Berlin Hackescher Markt. www.motel-one.com
Berlin Gorki Apartments- instalado num prédio do seculo XIX, são 34 apartamentos decorados individualmente, para que você sinta-se em casa. Semelhante a um flat, tem cozinha completa que te permite fazer do café da manhã e refeições ligeiras. Localização provilegiada. Diárias dependem do apartamneto escolhido, começam em 180,00€. www.gorkiapartments.com
The Mandala Suites – a duas quadras da PostdamerPlatz e perto de tudo, esta é outra opção de hotel de luxo com cara de flat. A partir de 160,00€. www.themandalasuites.de
Restaurantes
A escolha passa muito mais pelo tipo de gastronomia que desejamos e menos pela qualidade dos restaurantes. São milhares de boas escolhas…
Ristorante A Mano – nhoque de queijo de cabra com trufas raladas… Pode imaginar? Mas não se limite, o cardápio inteiro é uma delícia! Do antipasto ao vinho sugerido, uma experiência gastronômica onde os pratos não chegam a 20,00€ www.amano-ristorante.de
Oxymoron – dentro de um dos pátios do Hackescher Höfe Markt, acomoda tanto um grande grupo para almoço quanto um romântico jantar a dois. No cardápio de preços honestos, opções vão de uma deliciosa quiche de alcachofra com salada, passando pelos pescados e risotos. À noite ainda se pode curtir uma balada. www.oxymoron-berlin.de
Pauly Saal – este maravilhosos restaurante instalado num antigo internato feminino, acaba de receber sua primeira estrela Michelin. Sofisticado e caro, vale quanto pesa. Abre apenas para o jantar. www.paulysaal.com
Co Chu – para os amantes da cozinha vietnamita, uma ótima opção de cozinha gourmet, adequado também para vegetarianos. Uma delicia que não pesa no bolso. www.co-chu.de
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