No início do século 20, na Europa desenvolvida, a expectativa de vida ao nascer andava ao redor dos 40 anos. Naquele tempo, homem ou mulher que atingissem essa idade provavelmente estariam se aproximando do final de suas vidas. Hoje, aos 40 anos, eles são considerados jovens.
A expectativa de vida praticamente dobrou nesses países no decorrer do século 20 e trouxe consigo uma série de problemas socioeconômicos. Morrer mais tarde criou também dificuldades no relacionamento familiar, especialmente no que se refere a como lidar com parentes de idade mais avançada.
Portanto, a meta tem que ser a busca por um envelhecimento ativo e saudável, mas como atingir isso?
Segundo Wilson Jacob Filho, médico.iretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, “o envelhecimento saudável é produto de várias ações que culminam com a expectativa de vida alongada, mas em condições de exercer todos os papéis que o indivíduo exercia ou gostaria de exercer dentro da sociedade. Ele impõe não só boa condição física e mental, como também a inclusão social que permite desempenhar tais funções.”
Escolher a atividade física apropriada, de modo que o organismo adapte-se a um patamar maior de exigência e de capacidade de resposta, ter cuidados permanentes com a saúde, sobretudo com as doenças crônicas como diabetes e hipertensão, são alguns dos requisitos para se enfrentar o envelhecimento, mas o “fantasma” maior está na deterioração do sistema nervoso central, a deterioração dos processos cognitivos.
Para o Dr. Wilson, “o fato de vivermos mais não significa que todos vamos chegar a uma fase em que perderemos o contato com o mundo que nos cerca.”
Segundo o médico, essa situação resulta de uma doença como qualquer outra que pode acometer os indivíduos com idade mais avançada, uma vez que raramente se manifesta antes dos 60 anos. Antigamente era conhecida como esclerose cerebral – Ah, fulano está esclerosado -, mas hoje existe o consenso de denominar de demência essa perda da capacidade de raciocínio advinda de uma doença (no nosso meio, é a doença de Alzheimer).
Infelizmente, ainda não conhecemos exatamente os mecanismos pelos quais se desenvolve. O fato de existir um caso na família não significa que todos vão ter o mesmo destino. Casos familiares de Alzheimer são bastante raros. Se desconhecemos as causas exatas dessa enfermidade, sabemos que existem fatores de proteção e fatores de agressão.
Nem todas as pessoas que envelhecem terão esse tipo de acometimento. A maioria chegará ao limite da vida gozando de plena consciência e equilíbrio mental. Hoje sabemos que, quanto mais desenvolvida foi a atividade mental e intelectual, não necessariamente a escolaridade, quanto mais o indivíduo usou seu cérebro, quanto mais exercícios mentais fez, menor a probabilidade de desenvolver demência. E, se desenvolver, será postergado o início da doença. Portanto, a lei de uso e desuso também funciona nesse aspecto.
Por outro lado, doenças sistêmicas que acometem o organismo como um todo, são agravantes das doenças mentais. Diabetes e hipertensão mal controlados, alcoolismo, tabagismo e, especialmente, as doenças vasculares cerebrais são fatores agressores ou de risco para doenças mentais. Portanto, o caminho a seguir para evitar que nos tornemos pessoas mentalmente limitadas no futuro é cuidar da saúde continuamente, evitar que doenças crônicas permaneçam sem controle e, acima de tudo, dar ao cérebro razões e motivos para estar constantemente funcionando, mesmo depois do término das atividades profissionais.
Aquele senhor que almejava vestir o pijama e ficar em casa depois da aposentadoria, ou a senhora cuja grande atividade mental é o cotidiano da cozinha ou uma sessão de tricô no fim da tarde estão permitindo que regrida a capacidade cerebral de ação entre os neurônios.
Novas tarefas, novas vivências, novos projetos são sempre bem-vindos, quando se trata de preservar a atividade cerebral. Um bom exemplo, segundo o Dr. Wilson, são as Universidades da Terceira Idade.
A maioria da nossa população com mais de 60 anos jamais teve a chance de frequentar uma universidade, mas elas estão aí, assim como estão os Grupos de Terceira Idade e os Centros de Convivência. Nesses locais, preparados para atendê-lo, o indivíduo exercerá funções que provavelmente nunca teve oportunidade de fazê-lo. Muitas pessoas procuram a Universidade da Terceira Idade para serem alfabetizadas. Outras, para fazer o curso de Geografia ou História da Arte com o qual sempre sonharam, ou uma atividade lúdica, ou uma atividade profissionalizante.
Todas saem de lá com duas certezas adquiridas. Primeira: percebem que podem aprender. Aquilo que aparentava ser um período de decadência em suas vidas, na verdade não é. Existe a possibilidade de ascendência, mesmo que não tenha acontecido antes. Segunda: passam a ver o universo de maneira diferente. O ângulo de visão que era fechado abre-se para um mundo novo. Todas as formaturas de alunos da terceira idade têm mostrado esse tipo de perspectiva. O indivíduo olha para um futuro por um ângulo aberto, de uma maneira absolutamente inusitada em sua vida.
Nunca na história do ser humano houve a expectativa de se viver mais de 60 anos como há agora. Logo temos que planejar como queremos viver esse tempo. Para tanto, é sempre útil ouvir a opinião de profissionais especialistas no assunto. Por fim, é fundamental querer viver bem todos os anos que têm pela frente e não aceitar de forma passiva os acontecimentos. Para o Dr. Wilson, “a chave do sucesso está em participar ativamente do processo de envelhecimento.”
Fonte – https://drauziovarella.com.br