Um atleta de Peruíbe, no litoral de São Paulo, endossa a tese de médicos e educadores físicos que dizem que praticar esporte faz bem à saúde e retarda o envelhecimento. Frederico Fischer, que acabou de completar 99 anos, em janeiro de 2016, é maratonista e pratica o pedestrianismo desde 1931. A menos de um ano de chegar aos três dígitos, idade que não chega nem perto de aparentar, ele continua competindo, viajando o mundo e batendo recordes atrás de recordes.
Filho de alemães, ele mora há 29 anos em São Paulo e esbanja vitalidade. Ele é reconhecido como um dos corredores mais experientes por associações de pedestrianismo espalhadas por todo o mundo.
A maior lição, segundo Fischer, é não parar jamais. “Manter o corpo sempre em movimento ajuda a ‘lubrificar’ as engrenagens das pernas e braços e deixa os pensamentos mais leves, ajudando a melhorar cada vez mais a qualidade de vida, apesar da idade avançada.
“Tinha uma época em que eu trabalhava em uma empresa da família em Mauá e fiquei um tempo sem correr, sem pular, sem fazer esporte com frequência. Eu tinha uns 50 anos e estava com a cabeça cheia, com muito ‘pepino’ para resolver. Foi então que decidi tirar um dia para correr e, quando terminei o treino, percebi que o esporte fez bem para mim. As ideias vieram e foi mais fácil esfriar a mente e resolver o que precisava. O esporte é uma ótima farmácia”, relembra Fischer, que é contador aposentado.
Embora apaixonado por esportes, o decatleta (competição de atletismo com mais de dez provas) lembra que o trabalho sempre esteve em primeiro lugar e o esporte era apenas um complemento. O pai dele morreu cedo, portanto, ele e os outros cinco irmãos tiveram que cuidar um do outro.
Fischer morou a maior parte da vida em São Paulo. Quando menino, jogava futebol com os amigos, velejava na represa Santo Amaro em um barco feito pelo próprio irmão e também jogava futebol. “Gostava de jogar no gol e, de preferência, no time mais fraco, assim podia defender mais”, brinca.
Embora ele afirme que tinha talento e elasticidade para ser goleiro, o alemão começou a se destacar em competições amadoras de atletismo, remo, vela e salto com vara. “Naquela época, lá em 1925, 1930, era tudo amador. Eu aprendi a nadar e fazia de tudo um pouco, já que, modéstia a parte, tinha um físico muito bom e isso ajudava”, recorda.
Com tanto empenho, a primeira medalha chegou em 1938, dois anos depois de ele entrar para o Clube Tietê, em São Paulo. Foi lá que conheceu dona Teresa, que também era atleta, mas anos depois se tornaria enfermeira e esposa de Fischer. Eles casaram em 1947. “Já são 68 anos”, destaca ele, ao lado da esposa, em um quarto da casa de praia, que está repleto de medalhas e fotos.
“As pessoas que tinham mais de 40 anos e faziam exercícios eram consideradas loucas. Eu me sinto mal se eu não correr. O idoso deve fazer exercício. Hoje mudou bastante, mas naquela época quebramos um tabu”.
Dia a dia
Pode até parecer curioso, mas o atleta Fischer não mantém nenhum ritual específico no dia a dia. Ele afirma que gosta de comer o “bom e velho arroz com feijão”. Dorme cedo, ajuda a esposa em casa, brinca com os cachorros e costuma treinar duas vezes por semana na praia.
O treinamento, porém, precisou ser interrompido nos últimos meses. Fischer teve dengue no ano passado e a doença acabou enfraquecendo os músculos. Mesmo depois disso, ele chegou a viajar para Lyon, na França, em agosto, onde participou de uma competição internacional.
“Não estava muito bem. Essa doença me deu uma derrubada. Fiz um tempo de 24 segundos e 89 milésimos em 100 metros. Mas eu competi com um idoso que não era da minha categoria. Ele tem 85 anos e eu tinha 98. São 13 anos de diferença”, disse.
Mesmo com o tempo que ele considera não tão bom, a vitalidade e a força do brasileiro foram destaque em um jornal francês – “Aos 98 anos ele levantou um estádio”, diz a publicação.
“É claro que eu fiquei feliz. Eu faço esporte desde cedo e ser aplaudido é sempre muito legal. Hoje, é claro, temos escassez de competidores da minha idade, o que é natural. Mas vou ser sincero. Essa fase de preocupação com treinamento já passou. Hoje faço tudo para a manutenção da saúde e competição é consequência”, afirma.
Fonte – g1.globo,com