“O Brasil precisa reconhecer que é um país em rápido processo de envelhecimento e fazer disso uma prioridade, tanto na definição de políticas públicas quanto na alocação de recursos”: a afirmação é de Maria Lúcia Lebrão, professora titular sênior da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e coordenadora do Estudo Sabe – Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento, pesquisa sobre as condições de vida e saúde dos idosos do município de São Paulo.
O estudo mapeou tanto as mudanças vividas pelos indivíduos ao longo de seu processo de envelhecimento quanto as transformações pelas quais vem passando a sociedade e que se refletem nas novas características das pessoas que alcançam a sexta década de vida.
Segundo a pesquisadora, a nova geração de idosos está mais preocupada com a promoção da saúde. Tenta não fumar, tenta beber menos, tenta praticar exercícios físicos, tenta dirigir por mais tempo. “Acima de tudo, são pessoas com um nível de escolaridade mais alto”, afirmou.
A essas características positivas contrapõem-se os enormes desafios que o envelhecimento da população apresenta para a sociedade brasileira. O percentual de idosos no país cresceu de 4,1%, em 1940, para 10,8%, em 2010, e deverá chegar a 12,0%, em 2020.
“Nossa transição demográfica ocorreu em três grandes etapas. Do século XIX até 1940, tivemos altas taxas de natalidade e também altas taxas de mortalidade, que resultaram em uma população aproximadamente estável, com grande proporção de jovens. De meados da década de 1940 até o final da década de 1960, mantiveram-se altas as taxas de natalidade enquanto caiu a taxa de mortalidade, o que levou a um aumento populacional e a um aumento também do contingente jovem. A terceira tendência, iniciada ainda em meados dos anos 1960, combinou a redução da taxa de natalidade com a redução da taxa de mortalidade, provocando a rápida queda do crescimento populacional e o aumento percentual dos contingentes de adultos jovens e idosos”, informou Lebrão.
Taxa de fecundidade
A taxa de fecundidade brasileira caiu de 5,8 filhos por casal em 1970 para 1,8 filho por casal em 2010 – número que não é suficiente para a reposição populacional. “Mantida a tendência de queda, alcançaremos um pico populacional de 218 milhões de pessoas em 2035, após o que a população brasileira começará a diminuir”, prognosticou a pesquisadora. O Brasil acompanha assim a tendência mundial, puxada pelos países desenvolvidos, que fará com que a faixa da população do planeta com mais 65 anos supere em número a faixa da população com menos de 5 anos antes de 2020.
Em termos globais, esse envelhecimento da população levou a uma transição epidemiológica, com as doenças infecciosas, antes prevalentes, sendo suplantadas pelas doenças crônicas não transmissíveis. Porém o Brasil, assim como outros países da América Latina e Caribe, não teve uma transição epidemiológica tão linear quanto a observada nos países desenvolvidos. “Nossa transição epidemiológica caracteriza-se por um vaivém. Se já temos muitos idosos com doenças crônicas não transmissíveis, ainda temos também uma alta incidência de doenças infecciosas (dengue, febre amarela, malária etc.).
Pensamos, por exemplo, que a febre amarela havia sido erradicada, e, de repente, constatamos o seu ressurgimento. Esse vaivém exige que os recursos do sistema de saúde sejam divididos para o enfrentamento de uma dupla carga de doenças”, pontuou Lebrão.
Outro aspecto, ainda mais importante é que as pessoas passaram a viver mais, porém continuam a ficar doentes com a mesma idade em que ficavam antes. E o intervalo entre as duas linhas tende a aumentar cada vez mais, trazendo grande impacto sobre o sistema de saúde.
Fonte – Agência Brasil por José Tadeu Arantes