Um tema do cotidiano nem sempre parece ser um problema para o qual buscar uma solução. A geriatra Arianna Kassiadou Menezes, atuante há mais de 33 anos, disse que “foi necessário que alguém a despertasse para a situação, que não chama tanto a atenção dos profissionais de saúde e dos familiares de pessoas idosas”.
No seminário “Cultura de não contenção da pessoa idosa – estratégias e desafios”, realizado no dia 20 de agosto, promovido pelo Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e pelo Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), Arianna Menezes afirmou que “a contenção das pessoas idosas é entendida como várias formas, mecanismos e métodos que, de alguma maneira, vão limitar a pessoa, em um primeiro momento restringindo a mobilidade livre, ou seja, o movimento corporal espontâneo.” E completou que, “em uma visão mais ampla, entende-se como contenção, qualquer medida restritiva do cotidiano, como, por exemplo, a recomendação de que uma pessoa idosa não saia à rua.”
Arianna explicou que pode até haver uma justificativa para a medida, mas é uma restrição colocada de fora para dentro, que não é uma escolha da pessoa e, apesar de não ser uma limitação física primária, nem de habilidade cognitiva, é uma ação imposta como proteção e prevenção e, talvez seja muito indicada – mas requer reflexão.
A quem se destina a luta pela não contenção?
A prática de contenção de pessoas idosas tem sido, habitualmente, empregada em indivíduos com determinadas condições de fragilidade, quando outros indivíduos assumem a responsabilidade por elas. “São pessoas idosas limitadas, seja por uma ação de fechar uma porta, de trancar um quarto, de impedimento da escolha do canal de televisão ou de conter quimicamente”, contextualiza Arianna. Para a geriatra, “ser dependente implica em uma correlação, por que ninguém é dependente do nada, mas de alguma coisa ou de alguém. A dependência ocorre quando alguém compensa as incapacidades e as deficiências de outro alguém.”
O trabalho por uma cultura de não contenção da pessoa idosa se destina ao subgrupo de população que se tornou dependente, com restrições de ordem mental ou física, que requerem a participação de outra pessoa para que alcance o que necessita no cotidiano e não consegue fazer de forma autônoma. A quantidade de pessoas idosas em situação de dependência está vinculada à escala em que se insere e varia de 20 a 40% dos idosos, sendo que os idosos com altíssima dependência correspondem a 5% das pessoas idosas, em todo o mundo. “A idade em que a dependência começa, varia de acordo com os países ditos desenvolvidos (início mais tarde) e aqueles ditos em desenvolvimento” pontua Arianna.
Para o suporte às pessoas idosas em situação de dependência, os dois lugares prováveis de cuidado são a residência e as instituições de longa permanência de idosos (ILPI). Se houvesse boa disponibilidade de centros-dia, centros de convivência e de centros de demência, diz Arianna, as opções seriam maiores. E acrescenta: “se as ILPIs no Brasil não fossem vistas como lugar para a pobreza, não haveria o uso do leito de hospital como espaço de internação de idosos”.
Muitas vezes, a contenção da pessoa idosa adota o discurso da segurança e proteção do paciente, devendo, segundo Arianna, “ser ponderada para não extrapolar os seus possíveis “benefícios” em detrimento do Direito à liberdade, da ética e de um plano terapêutico humano. A luta por uma ‘Cultura de não Contenção em Idosos’ sustenta a conscientização dos profissionais pelos riscos envolvidos na adoção corriqueira desta prática dos direitos humanos e da necessidade de crítica para a adoção das boas práticas em gerontologia, sustentadas em evidências.”
Fonte – http://longeva-idade.blogspot.com.br/