Aos 66 anos, depois de uma vida inteira dedicada aos estudos e trabalho, geralmente procuramos descanso, certo?
Não para Eleonora Mendonça, primeira brasileira a correr uma maratona olímpica em 1984 e organizadora do primeiro circuito de corridas e da primeira maratona no Brasil. Mesmo depois de uma lesão no joelho, ela corre de 5 a 8 km todos os dias.
“Idade não é obstáculo, mas tem que se cuidar, fazer exames e começar devagar, com caminhadas leves e acompanhamento profissional”, aconselha.
Atividade física sempre fez parte da vida dessa carioca, que hoje vive nos Estados Unidos. Com uma fala tão rápida quanto suas passadas, ela lembra que sua relação com a corrida começou relativamente tarde. Primeiro vieram o vôlei e o tênis, e em 1972, ao usar o campo do Fluminense para correr, recebeu o convite de um técnico para participar de provas de atletismo e não parou mais.
“Correr é prazeroso, não depende de equipamento, de outras pessoas, não tem técnica. É um esporte fácil e que pessoas de qualquer idade podem se envolver”.
Prova disso é a própria mãe da corredora, que aos 74 anos, quando Eleonora organizava a primeira corrida no Brasil, na década de 80, participou de uma prova pela primeira vez na vida.
“Minha mãe era ativa, mas nunca havia feito esporte. Estávamos entusiasmadas com as inscrições e faltando menos de uma semana para o grande dia eu brinquei perguntando se ela queria correr. Para minha surpresa ela aceitou. Treinamos juntas, fiquei preocupada, mas ela completou a prova que era de 5 km e depois participou de outras corridas”.
De 1976 a 1988, Eleonora participou de cerca de 50 maratonas e mesmo depois de tanto tempo, o amor pelo esporte não muda e a energia não acaba. O segredo? “Procuro ter uma visão mais alegre da vida. A atividade física ajuda a retardar o envelhecimento não só físico, mas mental também.”
Ao olhar para trás, além do fôlego e do ritmo, que naturalmente não são mais os mesmos, ela lembra de todo esforço e dedicação ao longo da vida pelo esporte e fica satisfeita com o crescimento da corrida no Brasil.
“Nos EUA as pessoas têm o hábito de usar a hora do almoço para correr. No Brasil não é assim, mas percebo um crescimento enorme, uma participação significativa das pessoas nas provas e realmente fico muito feliz com isso”.
Aposentada das competições, mas nunca do esporte, ela sabe que ao cruzar a linha de chegada, seja lá em que posição for, é uma vencedora. Porque após anos correndo longas distâncias o corpo vai querendo diminuir o ritmo, mas a mente saudável dá sempre um empurrãozinho e prova que esporte, seja lá com a idade que for, até parece não ser para qualquer um. Mas é! Basta querer! Afinal, “atividade física é um meio de vida, é essencial!”, garante.
Entrevista de Paula Martini
Foto de Maria de Souza Lima