Por essas, e outras, que todos os consumidores brasileiros vivem, que proponho um combate nacional às más ofertas. Todos seriam mais felizes num mundo de relações mais honestas.
Ser um consumidor consciente no Brasil é muito cansativo. O tempo todo temos que ficar atentos ao que nos oferecem, buscando as pegadinhas. E quando tomamos coragem para contratar um serviço, temos que conferir boletos, extratos, pois, a qualquer hora, pode aparecer a cobrança de um serviço que você não pediu. Cobrança indevida é o maior problema de consumo do país, a maioria das reclamações oriunda da má oferta.
Por isso, sugiro um grande esforço conjunto, reunindo a ação de todo o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor e dos consumidores, para identificarmos e apontarmos as armadilhas das ofertas. Se as empresas pararem de se utilizar desta forma, no mínimo, antiética, de vender, os procons e o Judiciário vão agradecer a diminuição nos seus custos.
Está cada vez maior o texto explicativo em letrinhas miúdas no rodapé das propagandas. Precisa de tanta explicação porque, na verdade, quando se lê todo o texto, percebe-se, que a vantagem da oferta, ressaltada em letras garrafais, praticamente não existe, devido à quantidade de restrições para se utilizar a oferta. A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) notificou a TIM, no fim de abril, porque seu anúncio dizia que o serviço de WhatsApp era ilimitado em letras grandes, e nas letrinhas informava que a partir de 20 de junho, o serviço estaria restrito a 200MB diários. A Senacon considerou a publicidade enganosa por induzir o consumidor a pensar que teria sempre o serviço. A TIM respondeu que cumpre a legislação vigente.
Recebi em casa uma propaganda da Net que anuncia as novas formas de se assistir à sua programação, também pelo tablet e pelo smartphone, e apresenta dois pacotes, que, à primeira vista, parecem promoções: um custava R$ 90 por mês e estava por R$ 59,90 ao mês. E o segundo era R$ 110 por mês, mas ficava por R$ 79,90. As letrinhas miúdas acrescentavam, “por seis meses, no Net Combo”. No rodapé, as explicações diziam que este valor seria para pagamento em débito automático e o cliente estaria fidelizado por um ano; caso saísse antes pagaria uma multa de até R$ 360. Ora, para fidelizar o cliente, a empresa é obrigada a “dar” alguma coisa em troca. Ou seja, não há nenhuma promoção, não há nenhuma vantagem adicional. Mas parece.
E o consumidor tem que ficar muito atento quando acabam os meses “promocionais” da fidelização. Para assinar o menor pacote da Sky fui obrigada a ter dois pontos e a ser fidelizada por um ano. Em contrapartida a empresa me liberaria dois canais de filmes por três meses. Disse que os filmes não me interessavam, mas responderam que o contrato era esse e pronto. Acabado o prazo, recebo minha fatura com R$ 60 a mais. O atendente me diz que acabou a “degustação” e eu deveria ter ligado para dizer que eu não queria mais. Como assim? Eu nunca quis. Falei que não iria pagar a fatura majorada para receber o reembolso no mês que vem porque é prática da Sky colocar estas cobranças indevidas. Ele disse que não tinha outra forma. Reclamei com a Anatel. Outro atendente me ligou e disse que eu poderia pagar o valor normal com o CPF na casa lotérica. Fica aqui a dica, para que outros clientes também parem de financiar a Sky.
Há anos só tenho celular pré-pago porque a fatura nunca vinha no valor que contratei. Cansei de brigar e passei para o pré-pago. Era mais caro, obviamente, mas eu pensava que estava pagando para não me aborrecer. Só que de um mês para cá, aumentou muito a ligação do pré-pago. Coloquei R$ 50, fiz três ligações curtas, cada uma custou R$ 7, e mandei mensagens, quatro dias depois estava sem saldo.
Rendi-me e cadastrei-me no Vivo Tudo, que anuncia “qualidade do 4G, ficou melhor navegar, falar e enviar SMS por menos de R$ 1 por dia”. Só que na mensagem de confirmação diz: “agora você tem 75MB de internet, 100 minutos e SMS ilimitado para qualquer Vivo por sete dias. Pode mandar SMS a R$ 0,05 para qualquer operadora e falar a R$ 0,50/min com fixo local por sete dias. Não entendi. Quando acabarem os sete dias, vou pagar quanto de SMS para outro Vivo e quanto para outra operadora? E quanto custará a ligação para um fixo local? Afinal de contas, o que está incluído no valor de menos de R$ 1 por dia? Já pressinto aborrecimentos…
Entrei no Google e pesquisei: ventilador de teto com controle remoto. O primeiro link é o do Walmart, e indicava um ventilador Lumen. Pesquisei por buscadores de menores preços, e o mesmo produto do Walmart, apareceu nos primeiros links. Ao receber o produto, verifiquei que estava faltando o controle remoto. Reclamei e recebo um e-mail da empresa dizendo que aquele modelo não tinha controle remoto. Voltei no site, fiz a mesma pesquisa e veio a indicação para o mesmo produto. Mas, depois, com outras formas de pesquisar, verifiquei que existe o ventilador com “acionamento” com controle remoto, porém como não há um número de referência do produto, e os dois são iguais, o comprador não tem como comparar. O site induz à compra errada. Mais uma luta pela frente. Cansa.
Por essas, e outras, que todos os consumidores brasileiros vivem, que proponho um combate nacional às más ofertas. Acredito que o consumidor não vai no Procon só porque viu num encarte uma promoção enganosa. Mas se ele tiver um espaço no site da Senacon, pode ser que ajude a vigiar e denuncie o que viu. Se cada membro do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor colocar uma pessoa por mês, sob o sistema de revezamento, analisando ofertas, checando denúncias, e todo mundo ficar atento, pelo menos haverá transparência sobre esta prática. E, quem sabe, as empresas prefiram mudar as estratégias para segurar seus clientes, optando pela transparência e seriedade nas ofertas. Sem necessidade de inquéritos, notificações e multas. Todos seriam mais felizes num mundo de relações mais honestas.
Fonte – Cliente & Cia por Nadja Sampaio
Contato – nadja.sampaio@brasileconomico.com.br