O jornalista Rodolfo Lucena lançou o blog VAMO QUE VAMO!!! para registrar o passo a passo da preparação para correr sua próxima maratona, a primeira desde que se aposentou, em setembro do ano passado. Aos 58 anos, a maior parte deles dedicados à rotina sedentária do jornalismo, ele quer “compartilhar essa experiência e abrir a discussão sobre atividade física para maiores de 60 anos”.
A maratona está programada para 20 de junho, no Alasca. Por que ele escolheu essa prova? “Por várias razões” diz. “A principal, talvez, é o imaginário que cerca o Alasca –região distante, que foi palco na Corrida do Ouro, onde só sobrevivem os fortes e os bravos (ou os muito cabeça-dura, que provavelmente seja o meu caso). Também acontece numa data especial, o solstício de verão –não por acaso, se chama Maratona do Sol da Meia-noite.”
A decisão acontece após dois anos em que o jornalista não pôde correr maratonas (corridas de 42,195 quilômetros), devido a lesões e outros problemas. Uma abstinência sofrida para quem apaixonou-se pela prática. “Correr é pura poesia: há que ter fúria, engenho e arte (e um tantão de amor)”, escreveu, entre as reflexões registradas no blog.
Jornalista desde 1975, Rodolfo Lucena é colunista da Folha de S. Paulo, onde está há mais de 20 anos. Começou a correr aos 41 anos, em 1998, e a viajar pelo mundo atrás de provas. Já fez mais de 30 corridas de longa distância, inclusive maratonas e uma ultramaratona de 100 quilômetros.
Publicou em 1976 o livro de contos “Abertura 1812″ (ed.Movimento), e é autor também de “Maratonando – Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes” (ed. Record, 2006), de reportagens sobre suas aventuras corridas, e de “+Corrida”, com textos selecionados deste blog e da coluna que assina no caderno “Equilíbrio”, da Folha. Foi o primeiro integrante do grupo MarathonManiacs na América Latina.
Curso da Vida – O que é o blog “Vamo Que Vamo!!!” ?
Rodolfo Lucena – O blog VAMO QUE VAMO!!! é um espaço onde conto experiências de meu caminho rumo à minha primeira maratona como aposentado, condição em que ingressei no segundo semestre do ano passado; também traz artigos, entrevistas e reflexões sobre a vida dos que chegam à dita Terceira Idade, além de dicas de saúde e bem-estar e, eventualmente, discussões sobre questões políticas e econômicas.
CdV – Por que você decidiu abrir o blog?
RL – Para compartilhar essa experiência e abrir a discussão sobre atividade física para maiores de 60 anos (eu tenho 58 anos). Quando estamos trabalhando, no vigor da idade adulta, muitos de nós vemos a aposentadoria como um sonho, o momento em que vamos realizar projetos, ter tempo para nós mesmo etc. Nem sempre isso acontece. Muitos ficam perdidos, com menos dinheiro do que imaginavam, sem saber o que fazer, caindo até em depressão. A atividade física pode ser um caminho para enfrentar esse momento, criar um objetivo na vida.
Por isso, eu, que estava há dois anos sem correr maratonas por causa de problemas físicos e outros da vida, coloquei essa maratona como meta. É uma espécie de auxílio para a busca da recuperação física.
CdV – Qual a diferença entre este novo projeto e o blog MAISCORRIDA, que você mantém na Folha de S.Paulo?
RL – O novo projeto, de caráter particular, é voltado para um público mais específico; também terá mais textos contando minhas experiências pessoais; o MAISCORRIDA abarca tudo do mundo corrida e mais um pouco, de discussões sobre maratonas profissionais a relatos de experiências pessoais e a reportagens sobre a área.
CdV – Como o Vamo que Vamo!!! se articula com o perfil “lucenaaposentado” no Facebook?
RL – Anuncio na página Vamo que Vamo (http://facebook.com/lucenaaposentado) cada novo texto que coloco no blog, assim como publico, eventualmente, notícias envolvendo o mundo dos aposentados/Terceira Idade; fiquei muito feliz com a rápida aceitação da página, que em uma semana ganhou mais de 1.100 seguidores. Apesar de não ser muito frente aos campeões de audiência, coloca a página em ótima posição no universo geral das páginas pessoais ou corporativas do Facebook.
CdV – Em que medida a sua aposentadoria tem a ver com o projeto de correr uma maratona no Alasca?
RL – Essa maratona é especial na minha vida, pois será (espero) a primeira na nova condição, realizada depois de dois anos de muito sofrimento pessoal.
CdV – Conte um pouco sobre essa prova e por que você a escolheu como meta.
RL – Eu escolhi a prova por várias razões. A principal, talvez, é o imaginário que cerca o Alasca –região distante, que foi palco na Corrida do Ouro, onde só sobrevivem os fortes e os bravos (ou os muito cabeça-dura, que provavelmente seja o meu caso). Também acontece numa data especial, o solstício de verão –não por acaso, se chama Maratona do Sol da Meia-noite. Aqui está o link da prova: http://www.goseawolves.com/SportSelect.dbml?&DB_OEM_ID=13400&SPID=145508&SPSID=865211
CdV – Há quanto tempo você corre e por que decidiu começar? Quantas corridas, maratonas, você fez?
RL – Depois de uma vida de sedentário, dedicada à máquina de escrever, às reuniões políticas e jornalísticas, aos livros, ao cinema e à televisão, comecei a correr aos 41 anos. O primeiro trote foi numa praia em Florianópolis, um desafio a mim mesmo, queria ver se conseguia ir até um determinado ponto que, na época, me parecia muuuuito longe. Consegui. Fiz minha primeira maratona no ano seguinte e não parei mais.
Já fiz 33 maratonas e provas mais longas, de até 100 km, correndo nos cinco continentes. Foi essa a divisão do mundo que aprendi no primário: América, Europa, Ásia, África e Oceania; hoje há um clube de maratonistas que consideram ainda a Antártida e separam a América do Norte, totalizando sete continentes. Por essa conta, corri em seis (não fiz e não pretendo fazer corrida no gelo).
CdV – Como se reflete a passagem do tempo para o corredor? É possível comparar a forma como o jornalista e o corredor sentem o tempo passar?
RL – A passagem do tempo é sempre diferente para cada um de nós em cada uma de nossas atividades, como o rio que nunca é o mesmo. Dependendo do nosso estado de espírito e da ação em curso, o tempo voa ou se arrasta, é contado em milissegundos ou em milênios.
CdV – Quais os principais benefícios e riscos, as maiores descobertas (inclusive internas, emocionais) que correr proporcionou a você?
RL – Não exatamente correr, mas participar de corridas e provas muito longas transforma o indivíduo, que se obriga a conviver com suas falhas e fracassos no caminho para suas conquistas.
CdV – Teria dicas ou sugestões para pessoas com mais de 50 anos que queiram começar a correr? Ainda dá tempo?
RL – Sempre dá tempo. Em uma das minhas maratonas, ultrapassei uma senhora no km 35; ela corria com o número 67, o de sua idade, e fazia então sua primeira maratona. Quilômetros depois, ela me passou, e terminou a prova dois minutos na minha frente. O importante é começar aos poucos, arrumar tempo para descansar, comer, beber e dormir bem, e ser sábio e prudente ao escolher objetivos.
CdV – Você já citou várias dores e problemas físicos decorrentes da corrida. Correr é sofrer? Há como evitar “hérnias, lesões musculares, estiramentos, encurtamentos, tendinites, fraturas, inflamações e unhas maltratada”, como você diz em um dos textos do blog? Ou o sofrimento faz parte desse prazer?
RL – Correr não é sofrer. Correr é alegria, é liberdade, é esbanjamento, é poder do corpo sobre o espaço. O sofrimento não faz parte do prazer: imagino que nenhum esportista queira ter dor, pois ela prejudica o desempenho. O que a gente faz é enfrentar as dores que eventualmente surjam no caminho para o prazer de completar uma prova ou fazer um treino bem feito. Há muita gente que consegue treinar anos sem ter lesões; outras têm lesões às pampas. Eu avancei muito rapidamente no mundo da corrida, sem ter o preparo adequado, e até hoje pago por isso. Quem progride de forma mais pausada e inteligente tende a ter menos problemas. Mas, mesmo assim, se a pessoa busca ampliar seus limites, melhorar desempenho (seja lá o que isso signifique para ela), provavelmente terá dores em algum momento, pois ficará sempre colocando estresse maior sobre o corpo.
Para conferir o novo blog: http://lucenacorredor.blogspot.com.br/
Fotos – arquivo pessoal de Rodolfo Lucena
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