Estamos chegando ao fim do ano, está na hora de planejar 2015, que será um ano economicamente complicado. Diariamente, as notícias nos dão conta dos aumentos previstos para o ano que vem, falam sobre o crescimento dos juros bancários e do endividamento das famílias. Depois de trocar eletrodomésticos e o carro, é hora de organizar as finanças para deixar uma margem de segurança no orçamento doméstico, que, muito provavelmente, ficará mais apertado.
Embora apresentando uma pequena queda em relação aos meses anteriores, a parcela de brasileiros endividados chegou a 60,2% da população, em outubro de 2014, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). O índice de pessoas com dívidas ou contas atrasadas está em 17,8%. E o cartão de crédito foi apontado por 74,7% das famílias como seu principal tipo de dívida. Em segundo lugar, ficaram os carnês, informado por 17,3% dos entrevistados e, em terceiro lugar, ficou o financiamento do carro, com 14,1% de inadimplentes. Para quem já está pensando no Natal, é bom baixar as expectativas de presentes para não aumentar o buraco.
Os mal feitos do governo também vão deixar as contas mais salgadas para os consumidores. A conta do uso das termelétricas por causa da falta de chuvas neste ano (e da falta de outras formas de geração de energia) vai a mais de R$ 15 bilhões, e é certo que o aumento da conta de energia elétrica do consumidor vai ser de dois dígitos.
Aumento de combustível e de energia elétrica impactam diretamente nos custos das indústrias, portanto, é óbvio que haverá o repasse destes aumentos para os preços dos produtos, e também dos serviços. A inflação, que está encostando no pico da meta de 6%, vem aumentando o custo de vida e a tendência é que se mantenha alta. Fora isso, temos a dívida que ficou com as construções da Copa e vamos continuar nos endividando por causa das Olimpíadas.
O modelo de economia no Brasil depende do consumo, e a equipe econômica vem colocando todos os neurônios para funcionar, exercitando a receita de desonerar um setor, e incentivar outro, para ver se o consumo aumenta. Tentam diminuir o custo Brasil, reduzir burocracias, aumentam garantias para incentivar o oferecimento de crédito.
Mas tudo isso é paliativo e o consumidor tem que ficar alerta, tomar conta do seu orçamento familiar e não cair na tentação das propagandas. Por exemplo, esta é a hora de os bancos investirem no oferecimento de empréstimos para ganharem com spread alto e aproveitando que a inadimplência está crescendo.
É o momento de colocar todas as contas da família na ponta do lápis, saber exatamente em que está se gastando. Pesquisas feitas nos núcleos de superendividamento das defensorias públicas mostram que raramente as famílias se super endividam com compras. E a maior parte dos entrevistados sabia que não podia entrar no pagamento rotativo dos cartões de crédito, pois isso torna impossível quitar a dívida.
A grande maioria das pessoas que chegam nas defensorias pedindo ajuda para negociar com os credores, chegou a esta situação porque aconteceu alguma coisa inesperada, a doença de alguém, a perda de um emprego, a necessidade de um gasto urgente com a casa. Para evitar se chegar nesta situação, é preciso que as famílias não fiquem com seus orçamentos tanto no limite.
Depois de tudo anotado, é preciso definir as prioridades, onde não é possível cortar gastos (aluguel, escola, impostos), e onde dá para diminuir despesas (salão de beleza, lavagem do carro, lazer). Feito isso, começar a pensar diferente. Ou seja, ao invés de pensar em qual o tamanho da prestação que ainda cabe no seu salário, começar a guardar, poupar primeiro e depois comprar. Quanto mais dinheiro à vista o consumidor tiver, maior será seu poder de compra e de negociação. Vamos aproveitar este freio de arrumação da economia brasileira para fazer a nossa própria organização, e, ao invés de seguir o conselho dos economistas de consumir mais, vamos fazer diferente, planejar e começar a gastar menos, pensar no longo prazo, guardar dinheiro para construir sonhos, e não destruí-los com endividamento desnecessário.