Nada poderia ser mais diferente de uma nação nova como o Brasil, do que um país que conheceu seu auge, em poder e influencia, durante a Idade Média.
É o caso da Irlanda, onde cada pedrinha tem 1500 anos de tradição.
Os mosteiros e abadias ficaram famosos como centros onde se louvava a Deus com mais capricho do que no Vaticano. Esparramada entre vales cobertos por névoas e montanhas perdidas em brumas, ao lado de cemitérios abandonados, cheios de lápides de pedra e cruzes celtas desalinhadas.
Apesar de ter mais de 6 mil anos, a Irlanda conquistou sua independente há apenas 75 anos. Visitar a Irlanda e não mergulhar no seu passado seria uma pena.
Na parte central da Irlanda, às margens do rio Shannon, você vai até enjoar de ver tantos castelos e torres meio arruinadas em meio ao verde irlandês. Nada a ver com os castelos franceses: a Irlanda não é dada a fricotes e rendas. Pense em armaduras e lutas contra invasores vikings e não em perucas e minuetos.
Sim, os irlandeses eram briguentos e a mais danosa de todas as brigas foi a que separou católicos e protestantes. Por menos que se saiba sobre a Irlanda, de uma coisa todo mundo já ouviu falar: IRA – Irish Republican Army. Eles não atuam na República da Irlanda, ou seja, no pedaço da Irlanda que é independente, que corresponde a 4/5 da ilha e tem Dublin por capital. O IRA só atua na Irlanda do Norte, o pedacinho do território irlandês que ainda pertence à Inglaterra e cuja capital é Belfast, e é tão diferente da República da Irlanda quanto a Amazonia do Paraná.
O norte simplesmente se recusa a separar-se e, desde 1949, o IRA vem lutando para reunificar o país. Em linguagem local esta encrenca é conhecida por The Troubles – um problema que gerou mortes, injustiças e uns bons filmes como Em nome do pai, A filha de Ryan e Traídos pelo desejo.
Depois de cinco anos crescendo a 9% ao ano, (a previsão de crescimento do Brasil, para este ano, é de 1,8%!) o país está tão bem que é chamado de Celtic Tiger. Mas já foi tão pobre que uma praga na batata reduziu a população à metade. De fome. A outra metade imigrou para os Estados Unidos. Os que ficaram construíram um país feito em pedra: pontes, aquedutos, cruzes celtas, fortalezas, muros, abadias, torreões, casas, castelos, cemitérios, catedrais, muito disto, já em ruinas, o que nos obrigou a rever nossos paradigmas sobre ruínas. As daqui são maravilhosas!
Os irlandeses são alegres, puxam papo, estão sempre dispostos para uma cerveja – visitar a fábrica da Guiness, em Dublin, é um programa obrigatório e discutem futebol com paixão. Falam do Brasil com entusiasmo, fruto da admiração que sentem pela Camisa Amarelinha! Ou sentiam, antes de…deixa pra lá…
Uma ilha menor que Santa Catarina e uma população de pouco mais de 4,5 milhões, a Irlanda tem uma geografia de contrastes com vales, montanhas, lagos, falésias, rios, campos, penínsulas, baías, cabos, canais, estreitos, enseadas, tudo ao mesmo tempo, convivendo lado a lado. O país parece uma aula sobre acidentes geográficos. Os pastos arrastam-se até o mar, e as ovelhas (três por habitante) pastam na praia, fusionando nossos conceitos de vida campestre e estilo praiano.
Aqui estão as Skellig Islands, ilhas oceânicas que são o ponto mais ocidental da Europa, também chamadas de The Edge (beirada).
É, fica aqui a beirada do Atlântico!
Num país que chove 245 dias por ano, há uma dezena de nomes para a chuva: light shower, heavy rain, storm, drizzle e variam de acordo com a intensidade. Com tanta chuva, a natureza explode em cores e o mais o correto seria dizer que a Irlanda tem 245 tons de verde, cor onipresente por aqui. Está na bandeira, no trevo – símbolo nacional -, nos campos, montanhas, no mar e nos vales. O irlandês parece morar dentro de um parque nacional!
Tudo é tão bonito que rodar 100 km demanda algumas horas e explorar o interior equivale a uma exclamação a cada curva! Pegue qualquer estradinha e deixe-se levar, apreciando o que o acaso lhe trouxer. Foi assim, sem nenhuma indicação ou leitura prévia, que passamos por Adare, pertinho de Limerick. A intenção era passar à caminho do próximo destino, mas Adare deveria se chamar Adoro! Com apenas cinco ruas, tem orgulho de ostentar o título de Ireland’s Prettiest Village, a vila mais bonita do país, com mérito e louvor. Suas casas coloridas, tetos de olmos, jardins impecáveis, flores nas janelas, abrigam lojinhas, cafés, pubs, restaurantes e felizes moradores. Um misto de Gramado com Paraty. Imperdível!
Neste país não tem nenhum analfabeto, nas escolas ensina-se o Inglês e o Gaélico e a vida cultural é intensa e agitada. Nas igrejas, nos findes, apresentam-se corais e orquestras. Muitos são os artistas que levam sua arte às ruas, tocando flauta, violino, guitarra, cítara e banjo. As preferencias vão desde o rock do U2 até as musicas folclóricas tocadas nos pubs. Muitos atores que você imagina serem americanos, são boas as chances de serem irlandeses, como acontece com Pierce Brosnan (007), Liam Neeson (Lista de Schindler), Peter O’Toole e Richard Harrison.
Mas onde a Irlanda arrasa mesmo é nos cenários.
Boa parte dos filmes cujo enredo nos leva para a Inglaterra ou a Escócia é filmada aqui, como aconteceu com a série Highlander e Coração Valente, de Mel Gibson.
É por isso que, às vezes, passeando por aqui, a gente tem a curiosa sensação de deja vu. Não é vida passada, não.
É só cinema.
Para planejar
www.ireland.com/pt-br/destinos
www.visitdublin.com
www.visitireland.com
Apesar de ser mão inglesa, é imprescindível que você alugue um carro e ganhe a estrada! Todas as grandes locadoras estão presentes no país.
Para conhecer
Uma das principais atrações de Dublin é a Trinity College Library, a biblioteca da universidade mais antiga do país, visitada por mais de 600 mil turistas por ano! E todos vão em busca do Long Room, um salão de torar o fôlego, com 64 metros de comprimento por 12 de altura, ornado por bustos de filósofos e pensadores, no que compõe uma da mais espetacular biblioteca da Europa. Não é por acaso que Harry Potter foi ali filmado.
Cliffs of Moher em Galway é um junto de penhascos que se estendem por 8 km, e, no seu ponto mais alto, está a 246 metros do mar, é um dos maiores atrativos turísticos do país.
Condado de Kerry, tão típico das fabulas irlandesas é composto por uma serie de penínsulas separadas por enseadas de alto mar.
Killarney é o inicio do Ring of Kerry, um circuito de 179 km de indescritível beleza, passando Killorglin, Cahersiveen, Waterville até chegar a Kenmare.
Para dormir
The Westbury Hotel em Dublin, um simpatico hotel boutique perto de tudo.
Dromoland Castle – em Newmarket-on-Fergus e a 8 km de Shanon, maravilhosa experiência de ter seu dia de rei e rainha num castelo do século XV. Gastronomia igualmente maravilhosa! Shanon tem 9 mil habitantes e o segundo aeroporto internacional do país, com voos diretos para a Europa e algumas cidades dos EUA! www.dromoland.ie Diarias em torno de $500,00 euros
The White House – charmoso Bed and Breakfast em Kinsale, diarias a $100,00 euros.