Pela voz, é possível compor uma pessoa inteira: sem vê-la, podemos imaginar se ela é jovem, criança, velha, se está triste, com raiva, é doce. A voz é parte da identidade pessoal da cada um e também se transforma com o tempo. Bibi Ferreira, 92 anos, está em cartaz até novembro no Teatro Renaissance, em São Paulo, cantando Frank Sinatra, cantor genial que também ficou conhecido como “A Voz”. Em entrevista recente ao jornal Valor Econômico, ela contou que não toma gelado nem bebida alcóolica, não fala ao telefone e, em dia de show, fica muda até a hora de cantar. Minutos antes de entrar em cena e soltar a voz, bebe um gole de café com manteiga.
Segundo Vanessa Mazzarelli, fonoaudióloga que integra o grupo GeriatRe, especializado em geriatria, a voz humana amadurece por volta dos 18 anos, quando há o controle sobre a intensidade, variação de frequência e harmônicos, refletindo o amadurecimento dos sistemas anatômicos e fisiológicos da fala. Dos 20 aos 45, atinge o máximo de seu potencial. A partir daí, já podem ser identificadas alterações estruturais na laringe, com maior ou menor impacto. E, após os 60 anos, uma série de modificações nos parâmetros vocais aparecem de modo mais nítido. Terapia vocal, nesta idade, pode minimizar os efeitos dessas mudanças, por meio de exercícios e outras ações preventivas – por exemplo, como as adotadas por Bibi Ferreira.
A voz é produzida pela passagem de ar que sai dos pulmões pela laringe, onde estão localizadas as pregas vocais, descreve Vanessa. No momento da expiração, as pregas vocais se aproximam e vibram, produzindo o som. As causas do envelhecimento da voz estão relacionadas a transformações naturais do organismo, como alterações na laringe, diminuição da capacidade pulmonar, declínio do controle neuromuscular, das habilidades sensoriais e do nível de energia. Esses aspectos podem provocar mudanças significativas na produção da voz. E o idoso pode apresentar voz fraca, rouca, com tremor e deteriorada. A habilidade de comunicação também pode ser limitada pelos efeitos de medicação, estado psicológico e morbidades (doenças pulmonares, neurológicas, cardiovasculares).
Entre os fatores que agridem a voz, Vanessa cita o fumo, o álcool, a competição sonora em ambiente barulhentos, automedicação, doenças gástricas e doenças respiratórias (rinite, sinusite e alergias que dificultam a produção da voz e podem fazer com que forcemos ao falar). Alimentos condimentados, gelados, muito quentes também têm impacto na emissão da voz.
Para proteger esse elemento importante da individualidade e da comunicação humana, além de evitar esses elementos agressores, a fonoaudióloga recomenda beber bastante água. Os remédios tipo sprays e pastilhas devem ser evitados, adverte Vanessa. “Aliviam a dor mas ressecam as pregas vocais e podem mascarar algum problema. Usar medicamentos apenas com a prescrição médica. Os remédios caseiros também não são recomendados. “Geralmente não dão resultados e podem afetar sua garganta.” A especialista diz que as cordas vocais podem ser exercitadas para se tornarem mais firmes e saudáveis por mais tempo, como os outros músculos do nosso corpo. Neste caso, o fonoaudiólogo é o profissional indicado para desenvolver um programa de exercícios para a voz e orientar sobre a forma mais correta de preservá-la.
Dicas especiais para quem trabalha com a voz:
. Fazer aquecimento e desaquecimento vocal
. Usar roupas leves e folgadas (principalmente na região do pescoço) e sapatos confortáveis para favorecer a postura correta
. Optar sempre pelo microfone ao falar em publico
. Falar pausadamente, articulando bem as palavras
Fonte: Vanessa Mazzarelli, fonoaudióloga do grupo GeriatRe