O tabu que ainda cerca a abordagem de questões sobre a vida sexual pode fazer com que, muitas vezes, o medo vença o prazer, em especial no caso de doença cardíacas. Uma conversa aberta entre médico e paciente é importante para saber se a abstinência sexual é realmente necessária, em que medida e por quanto tempo.
A médica Valéria Salazar, cardiologista especialista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), observa que persiste a dificuldade entre médicos e pacientes de conversar sobre atividade sexual, em particular nas cidades médias e pequenas. “Em muitos casos, o paciente não toca no assunto, e o médico não pergunta”, conta. Para ela, o receio de retomar a vida sexual é normal em quem teve problema cardiológico, tanto por razões clínicas quanto culturais, mas precisa ser discutido com o médico. “O senso comum associa o coração à capacidade de realizar as coisas, e o evento cardiológico atua em geral como um marco, aproximando a pessoa da consciência da morte. É natural que ela passe a querer saber o que pode ou não fazer.” O crucial, neste caso, é conversar.
Como na gripe, que ataca de forma diferente a cada doente, a doença cardíaca não se manifesta igualmente em todos. O quadro de quem enfartou é diferente daquele de quem teve um entupimento, colocou uma ponte de safena, ou se, no enfarte, houve ou não tecido necrosado, entre outras possibilidades. “Não existe uma resposta única”, alerta Valéria. “É procedente o receio, porque, para alguns pacientes, não se vai mesmo indicar atividade sexual precoce. Mas pode ser diferente para outros.”
Imagine, por exemplo, diz a médica, que um executivo com uma viagem marcada para o exterior vá fazer um check up e descubra que precisa fazer uma angioplastia. Pode fazê-la e seguir na viagem, sem problemas. Mas, em caso de enfarte, pode precisar ficar, por hipótese, seis ou mais semanas sem fazer esforço. Para o paciente, destaca Valéria, é fundamental saber que há hoje uma medicina baseada em evidência, com diretrizes objetivas e claras.
Entre outras referências, os médicos utilizam a MET (sigla em inglês para Metabolic Equivalent Task), uma medida que avalia o gasto metabólico por tarefa e aponta que, de modo geral, uma atividade sexual normal pode ser executada por quem consegue subir uma escada de cinco degraus. Claro que, para essa equivalência, o médico deve levar em conta as demais características do paciente. A ereção, por exemplo, ao contrário do que muitos pensam, não está associada à intensidade do consumo de energia, tendo mais a ver com a frequência cardíaca e a pressão arterial, podendo, ainda, ser um indicador de doença arterial.
A dificuldade em tratar do tema costuma ser maior em pessoas acima de 65 anos, e afeta tanto homens quanto mulheres. Trata-se, então, de conversar e perguntar ao médico, sem constrangimento, o que se pode ou não fazer no sexo.
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